Lideranças e a Síndrome do Pequeno Poder
A busca desenfreada por liderar pode ser desastrosa e deve ser analisada com cautela
Devo confessar que acho curioso quando observo pessoas que nunca foram assistentes, analistas ou sequer passaram por cargos mais operacionais assumindo o papel de liderar pessoas. Já reparei em muitos líderes de startups no LinkedIn que pularam do estágio para um cargo de liderança. Se essa não é a realidade, é, pelo menos, algo que esses profissionais querem mostrar ao montar seus currículos. Ressalto startups porque esse movimento é praticamente impossível de acontecer em grandes empresas do mercado.
Desconheço a premissa e a motivação para esse tipo de movimentação tão comum em pequenas e médias empresas, mas se tem uma coisa que aprendi é que não existe um “perfil inato” de liderança. Quando se deve lidar com pessoas para que resultados sejam alcançados, é fundamental que soft skills sejam desenvolvidas. E, baseado em minha experiência e análise totalmente empírica, quando não há soft skills desenvolvidas, os pequenos poderes podem tornar um líder um pequeno tirano.
Outra coisa que já observei é que as lideranças que nunca passaram pela operação, muitas vezes, sugerem estratégias que pouco se encaixam na realidade. Este é um artigo totalmente opinativo, ok? Saliento isso porque, na minha visão, quem mais sabe da realidade de uma empresa é quem está lidando com os problemas no dia a dia. A realidade é diária, é no front. De nada adianta um plano estratégico sem dados e informações da operação. E não ter essa clareza cria abismos entre a estratégia, o tático e o operacional. Por essas razões, considero um erro crasso quando vejo um gerente comercial que nunca foi vendedor, por exemplo.
O que eu quero dizer com isso tudo é que enxergo a liderança como um coach e como um mentor, que acumulou experiências no “front”, e que está ciente de que seu maior poder ao ocupar a cadeira de líder não é a posição, mas o impacto positivo que ele pode gerar àqueles que estão fazendo acontecer: o time (ou a equipe, como quiser chamar).
Ao longo de mais de 9 anos de carreira, já tive líderes coaches e já tive líderes tiranos. A diferença de clima nas equipes de um líder coach e de um líder tirano é gigantesca. Nas equipes de um líder coach havia colaboratividade, manejo de egos, acolhimento e, claro, muita motivação para fazer acontecer e celebração de cada pequena conquista, sem esquecer dos pontos de melhoria (que sempre existirão); já nas equipes de lideranças “tiranas” havia a cultura da culpabilização (sempre apontando o dedo pro outro), pouca colaboratividade, medo, assédio moral de várias formas, estresse por mínimas coisas, uma briga de egos desenfreada, e, claro, ambiente nada acolhedor.
O trabalho não é um passatempo, é importante existir um ambiente que propicie laços saudáveis a algo que ocupa grande parte da nossa vida. Convivemos mais com quem trabalhamos do que com nossos familiares. Por essa razão, uma cultura empresarial positiva não é algo utópico ou infantil, como sala de jogos nos escritórios, mas estabelecer boas lideranças. E uma boa liderança não é aquela que tem como “profissão” ser líder.
Sem dúvidas, é desafiador lidar e motivar as pessoas, sem deixar de lado a pressão pela entrega do resultado. Como profissional de comunicação, faço isso a todo tempo. Uma ação nunca tem meu selo individual, ela passa por profissionais de design, de mídias, de conteúdo. São inúmeras pessoas envolvidas para fazer uma ação acontecer. Independentemente da cadeira que se ocupa, um profissional está a todo tempo angariando e motivando outros profissionais ao fazer uma campanha a fim de gerar um resultado… Isso é sobre ser um time.
Claro que a pressão sobre as lideranças é mais intensa. Toda cobrança tende a aumentar considerando as cadeiras ocupadas, mas isso não exclui o fato de que a síndrome do pequeno poder é real. De acordo com o Conjur, revista eletrônica especializada em notícias ligadas a temas jurídicos, denomina-se de Síndrome do Pequeno Poder o comportamento de alguém que, valendo-se do suposto poder (sempre passageiro e da ordem do imaginário), assume postura autoritária e/ou opressiva contra os submetidos ao poder que exerce, podendo operar de modo sutil ou ostensivo, com práticas humilhantes e truculentas, em que o agente se aproveita das circunstâncias para se prevalecer, às vezes sob o argumento cínico de que somente está fazendo o seu papel. Comportamentos da Síndrome do Pequeno Poder são: rebaixamento, rispidez, humilhação, maltrato, entre outros, para impor padrões de comportamento abusivos.
É importante destacar que, embora existam alguns perfis de pessoas que sempre buscaram pela cadeira de liderança, parecendo esse ser o único foco de sua vida profissional, a Síndrome do Pequeno Poder é um fenômeno social. E é justamente por entender isso que me posiciono, fazendo um trabalho de formiguinha, para que enquanto sociedade consigamos atingir uma nova (e melhor) mentalidade social para nossas relações interpessoais. Não é errado buscar um cargo de liderança, mas é perigoso buscar o poder pelo poder.
Recentemente, obtive uma certificação em liderança pela Escola Conquer que orienta de forma clara e objetiva que para ser líder você não precisa, necessariamente, ocupar a cadeira de líder. Manifestar as soft skills de liderança ao motivar seus pares profissionais é uma forma saudável de se desenvolver como um líder coach, fugindo da figura do tirano daqueles que simplesmente buscam o (pequeno) poder pelo poder.
Esse é o meu conselho para quem está em ambientes tóxicos de trabalho com líderes tiranos: tentar ser o agente de mudança ao criar um clima positivo entre seus pares e colegas. E mais: buscar novas oportunidades em empresas com cultura empresarial melhor desenvolvida. Acredite, existem líderes coaches por aí. Parece difícil, mas eles existem e torço para que você encontre um.
Espero que este artigo te ajude a seguir na sua caminhada profissional com maior alinhamento entre suas ambições, seu caráter e a sua entrega. Até a próxima.
Excelente conteúdo! Ainda bem que líderes tiranos sempre foram de menor representatividade na minha carreira até agora hahaha